Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Crítico severo da guerra paraguaia, João Evangelista de Souza, visconde de Mauá, profetizou: "A guerra levará à destruição do vencedor e à ruína do vencido". Não deu outra. O conflito ocasionou a destruição dos negócios bancários e industriais do visconde. O Paraguai ficou reduzido a mulheres e crianças. O Brasil, a mendigos. Perto do fim da guerra, o ministro barão de Cotegipe, em carta datada de maio de 1866, escreveu: "Maldita guerra, atrasa-nos meio século". E graves consequências se instalaram nos países que integraram o maior conflito bélico do hemisfério sul da América Latina.

No Paraguai, cerca de 75% da população masculina morreu em razão das batalhas, das doenças e da fome. A poligamia, em que grupos de mulheres se juntavam maritalmente a um único homem - em geral um adolescente ou uma criança -, permitiu a sobrevivência da nação. O sistema, tolerado pelo governo, durou 20 anos, tempo que garantiu a sobrevivência da raça. A infraestrutura do país foi arrasada. O Paraguai amargou a perda de 154 mil quilômetros quadrados, absorvidos pelo Brasil, no atual estado do Mato Grosso do Sul, e na Argentina, no Chaco Boreal, nas atuais províncias de Misiones e Formosa. O total de terras perdidas equivale a 40% do território paraguaio antes da guerra. Para agravar, uma vultosa indenização de guerra foi cobrada pelos aliados.

No Brasil, país vencedor, a situação não ficou melhor. Perdemos 150 mil vidas e 65 mil ficaram feridos. Gastamos 614 mil contos de réis, valor 11 vezes o orçamento governamental para o ano de 1864. Além do engrandecimento territorial com a absorção de terras paraguaias, a única vantagem da guerra foi evitar a secessão no sul. A guerra gerou sacrifícios ao governo brasileiro que lhe desequilibraram as finanças por um quarto de século. O serviço da dívida externa do país - o Brasil tomara junto à Casa Rotschild um empréstimo de 7 milhões de libras -, passou a consumir de mais de 60%, em escala crescente, dos saldos que sua balança comercial começou a apresentar, a partir de 1861, com as exportações de café aos Estados Unidos. A guerra liquidou com o sistema bancário brasileiro e o visconde de Mauá faliu. Até 1876, o exército brasileiro ocupou Assunção.

Na Argentina, as perdas foram calculadas em 18 mil homens em batalhas, 5 mil em conflitos internos e 12 mil na epidemia de cólera. O país fez grandes aquisições territoriais, mas aquém do que esperava com o conflito. No Uruguai, sem acréscimos territoriais, deu-se o surgimento do exército profissional uruguaio.