Análise

Que as águas me carreguem

por Nery Porto Fabres
Professor


Qualquer emoção sentida e compartilhada ao primeiro olhar para as enchentes que assolam o estado gaúcho beira a um grau de irresponsabilidade.
Porque a reação espontânea, seja pela certeza de o governo não estar preparado, seja por eu não estar preparado e também por nunca imaginar a possibilidade de uma população ser engolida por águas furiosas que não surgiram do nada, não deveria ser transmitida a ninguém.

Digo isso com propriedade, afinal, sou professor de comunicação e em plena época em que os celulares comunicam tudo a todos, em um tempo em que até as crianças se comunicam pelas redes sociais, como não estranhar a falta de comunicação entre os moradores? Como não trocaram informações que os rios estavam aumentando os volumes das águas?

E mais preocupante ainda é a falta de reação diante ao perigo iminente. Ficou visível e me deixou estupefato que as pessoas não fazem um movimento de retirada sem a imposição de um líder.

Notadamente os líderes estão em falta e o governo está sem nenhum elemento substituto. Em outras palavras, colocaram a inteligência artificial na administração pública, além do mais, os poucos humanos que ficaram não sabem o que é a empatia e o altruísmo, só entendem de lucro financeiro para o partido político que está à frente de tudo.

Desapareceram os sentimentos dos líderes. Aqueles homens e mulheres que direcionavam os olhares de seu povo foram trocados por agentes políticos frios e calculistas.

Hoje eles, os políticos, somente falam em dinheiro. As tragédias abrem as portas dos cofres. Empurra o teto dos gastos da administração pública. Aciona a caneta de ouro que assina os decretos para liberar despesas extras.
Vidas são ignoradas, mortes são contabilizadas como o fator que dá visibilidade. O ser humano tem mais valor para os administradores políticos depois de a morte chegar.

Observar a fragilidade das comunidades nas mãos destes agentes políticos causa-me uma profunda tristeza, um olhar mais longo alcança outro ponto a ser destacado, a impotência de estar com as mãos amarradas a um sistema político ineficaz, interesseiro e corrupto na sua essência, e mesmo sabendo disto, ainda assim tenho que deixar as águas me levarem.

Pois, se eu tentar mudar o olhar do povo para se alinhar ao meu, posso ser linchado. O povo está alienado às ideias do canário da gaiola. E não se bate de frente com ideias do canário.

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