“Decepção”, registrou o DP na transmissão em tempo real. “Inacreditável. O Pelotas desperdiça as quatro últimas cobranças”, narrou Marcelo Prestes, na Rádio Universidade. “O Pelotas abusa da possibilidade de matar a partida”, resumiu Leandro Comunelo, narrador da Rádio Tupanci. Pois além da frustração pelo contexto da eliminação da Divisão de Acesso contra o Monsoon, o Lobo voltará a encarar um cenário de dificuldades não apenas dentro de campo, mas também fora dele. A queda também faz o clube permanecer estacionado sob outros pontos de vista – das receitas ao calendário, por exemplo.

A cota paga pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF) é muito menor na Série A-2, fruto da enorme diferença do custo dos direitos de transmissão. Por tabela, outras fontes de arrecadação também são afetadas. Quem fala com propriedade sobre o assunto é Heráclito Moreira, o Tato, presidente do Guarany de Bagé, que subiu para a elite em 2021 e caiu no ano seguinte – agora, o clube da Rainha da Fronteira tenta um novo acesso.

“A primeira divisão significa a volta do torcedor, a transformação da linha do jogo, dos adversários que tu tem. O produto melhora, é um impacto muito grande. Conseguir [subir] é a melhor coisa do mundo. Tu prospecta um ano de melhor investimento tanto em nível estrutural quanto em nível de contratações, que é necessário”, fala o dirigente ao DP.

Outro elemento destacado por Tato envolve a receita de bilheterias. Segundo o mandatário do Guarany, jogos contra Grêmio e Internacional permitem a arrecadação de um valor capaz de quitar uma folha salarial inteira – ao menos no caso do clube de Bagé. “Isso a primeira divisão traz não só com a venda dos direitos de transmissão, mas também com a vinda de novos patrocinadores porque a exposição deles vai ser melhor”, conclui.

Divisão nacional fica mais longe

A derrota para o Monsoon deixa o Lobo ainda mais distante de voltar a disputar uma divisão nacional, algo que não acontece desde 2020. O atual critério de definição das vagas para times do Rio Grande do Sul na Série D é o Gauchão. Neste ano, por exemplo, Caxias, Brasil e Novo Hamburgo asseguraram lugar na quarta divisão brasileira da próxima temporada.

Como só poderá estar na elite estadual em 2025, o Pelotas ficaria com chance de ir à Série D apenas em 2026, no melhor cenário possível – exceto se houver uma extremamente improvável desistência em massa de clubes mais bem colocados nas competições dentro do Estado.

Por outro lado, o Áureo-Cerúleo ainda nutre esperança de marcar presença na Copa do Brasil do ano que vem: para isso, precisa vencer o Troféu Rei Pelé ou ficar atrás apenas de clubes já classificados ao torneio via outros meios – o Grêmio está garantido e o Juventude tem chance, dependendo de a dupla Gre-Nal ir à Libertadores de 2024. Vale ressaltar que Tricolor e Papo jogam a Copinha da FGF com times de base.

Um roteiro cruel

O DP solicitou a três jornalistas esportivos da cidade um relato sobre a eliminação do Pelotas. Leia abaixo.

Renan Santos, da RBS TV

“O Pelotas protagonizou uma das eliminações mais vergonhosas da história do futebol pelotense. Não pelo adversário e nem pela competição, mas pela forma como aconteceu. O Lobo perdeu quatro pênaltis consecutivos. Em três deles, bastava apenas fazer o gol que estaria classificado. É uma história inacreditável e com requintes de crueldade para o torcedor, que já vinha sofrendo desde o início da competição. O Pelotas fez uma péssima Divisão de Acesso. Sofreu pra classificar, avançou no saldo de gols e nunca passou confiança de que tinha time pra subir. A eliminação foi dolorosa e encerra uma das piores campanhas do time na Série A-2 nos últimos anos”.

Wesley Dagagny, da Rádio Universidade

“O que vimos na Montanha dos Vinhedos é até complicado de descrever, três vezes a bola da partida nos pés do Pelotas e quatro erros de penalidades consecutivos. No jogo, vimos um equilíbrio, o Monsoon tinha a proposta ofensiva pela necessidade de ir atrás do resultado, o Pelotas foi jogar com tranquilidade, conseguiu defender bem na primeira etapa, Monsoon teve algumas chegadas mas nenhuma chance clara. Na segunda etapa o Wiliam erra ao recuar demais e paga caro, o Monsoon abriu o placar muito cedo. Pelotas até tentou mas não obteve nenhuma grande chance. Vimos uma equipe abaixo mais uma vez fora de casa sem conseguir o resultado, algo que foi comum nessa Série A-2. Nas penalidades, foi com crueldade, com drama, com sofrimento dos torcedores que viajaram para a acompanhar a partida. Pelotas perdendo e sendo eliminado, protestos dos torcedores presentes e agora fica a dúvida sobre o que será feito daqui para a frente no clube. Fim de uma Série A-2 muito irregular do Pelotas que resultou em mais uma queda em penalidades e nas quartas de final. Podia mais, mas não fez por merecer mais”.

Tallis Machado, da Rádio Pelotense

“A campanha do Pelotas no Campeonato Gaúcho da Série A-2 terminou de forma traumática em Bento Gonçalves, contra o Monsoon. Mas não de forma surpreendente, pois a atuação da equipe repetiu o mesmo padrão que teve ao longo de toda a competição jogando longe da Boca do Lobo, que foi de um futebol muito pobre, em especial no seu setor ofensivo que marcou apenas dois gols em oito jogos como visitante na competição. A forma como tudo aconteceu certamente acaba por deixar o sentimento de frustração do torcedor ainda maior. Mas algo que começa errado, dificilmente vai terminar de outra forma. O Lobo precisa juntar os cacos e tentar salvar o seu ano na Copa FGF, mesmo que o ocorrido em Bento, por mais que não tenha sido injusto, vá ficar na memória dos áureo-cerúleos por bastante tempo”.

Números do Pelotas na Série A-2

16 jogos
6 vitórias
5 empates
5 derrotas
12 gols marcados
9 gols sofridos